Em meio à cidade "grande",as pessoas se tornaram céticas e esqueceram(ou fingem que não vêem)os horrorres que espreitam na noite.
Paulo havia se embriagado aquela noite,ainda a amava.Ele sabia que havia sido egoísta,e agora pagava por seus erros,mas não significava que ele a amaria menos.Júlia ia se casar,o que so aumentava mais a dor de Paulo.
Será que ela ja não pensava mais nele?
Já havia se passado bastante tempo,mas a dor não diminuíra.
Ele andava rumo a sua casa,estava bêbado e cansado,sua noite não terminara do jeito que ele gostaria.Pegara o caminho mais curto,evitado pelas pessoas da cidade.
O cemitério ocupava todo um quarteirão,e a sua volta somente umas poucas lojas comerciais,principalmente funerárias e floriculturas.
Paulo sentia o fervor do álcool em seu sangue.
Chorava porque ali ninguém o via,e se o vissem,pensariam que era alguém chorando por um ente querido.
Não que fosse mentira.
Já quase ultrapassando o quarteirão,secando as lágrimas,ele parou e encostou-se num banco na calçada.
Adormeceu.
Acordou sentindo frio,com alguém o chamando.
Olhando,viu a mais bela das mulheres de sua vida.Estava com um vestido branco,colado ao corpo e com um decote um tanto ousado.
Levantou-se e sentiu-se um pouco tonto,sentando de novo no banco.Cumprimentou a bela mulher.
-Olá,perdão por ter incomodado a senhorita. --disse fitando-a com os olhos cansados.
-Olá,meu nome é Isabelle,e o seu?
Sentindo-se constrangido respondeu:
-Paulo.
-O que você faz aqui uma hora dessas Paulo?
-Estou cansado e bebi um pouco demais.
Estava tentando esquivar-se de mais perguntas.
Isabelle sentou-se ao seu lado e disse:
-Vejo que trás grandes amarguras em seu coração.
Paulo estava desconcertado e decididamente a fim de evitar a conversa.
-Vejo alguém que me viu sentado perto de um cemitério e fala demais.
Isabelle recebeu a resposta com um sorriso irônico.
-Consigo enxergar através de sua alma,amargura,solidão e o abandono,caraterísticas muito ligadas à minha.
Paulo olhou nos seus olhos e viu um imenso vazio,sua alma gelou,de repente as histórias contadas no colégio ganharam vida e a única coisa que Paulo queria era sair dali.
Ela percebia o fato e sorria de uma forma não tão amigável agora.
-Não se preocupe rapaz,sua alma tem ligações iguais a minha,e não a desejo.Em compensação, poderia trazer a sua namoradinha para saciar meu desejo.
Paulo sentia uma profunda tristeza enquanto pensava em Júlia,mas a última que ele queria,é que lhe acontecesse algum mal.
-Pode ir embora rapaz. --disse Isabelle com uma arrogância um tanto assustadora;e não olhe para trás,se olhar,arrancarei sua alma e viverá em minha companhia para sempre,gozando dessa tristeza eternamente.
Paulo saiu andando um tanto desesperado,e ao chegar à travessia da rua não conseguiu conter um sorriso e olhou um tanto prepotente para trás.
-Seu tolo! Eu disse que não deveria olhar para trás. Sinta agora a dor eterna que lhe prometi!
Sua aparência era horrível,a imagem bela havia se transformado em uma espécie espectral;não havia olhos nem boca,só havia o vazio e as marcas de sua morte com o pescoço serrilhado por uma corda e quebrado.
Quando ela proferia as palavras inaudíveis aos ouvidos humanos,percebia que Paulo somente sorria.
Depois de proferida a maldição,Paulo ainda continuara da mesma maneira,mas dessa vez era o espectro que urrava a dor e o sofrimento da hora de sua morte.
Paulo era um colecionador de almas,as prendia nas suas maldições.
E as soltava em troca de uma dívida eterna.
Era um bom negócio,afinal nenhuma ainda havia lhe escapado e já fizera tantos pactos,que mesmo que algo desse errado,já havia um exercito disposto a lutar por ele.
Indo embora olhando o nascer do sol disse:
-Azar no amor,sorte no jogo.
Foi embora para casa sorrindo,como se tivesse ganho um grande prêmio.
Esse afinal era só mais um dia na vida de um colecionador,e ele era o melhor nessa cidade.
Pietrus Holderberg