quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O COLECIONADOR


Em meio à cidade "grande",as pessoas se tornaram céticas e esqueceram(ou fingem que não vêem)os horrorres que espreitam na noite.


Paulo havia se embriagado aquela noite,ainda a amava.Ele sabia que havia sido egoísta,e agora pagava por seus erros,mas não significava que ele a amaria menos.Júlia ia se casar,o que so aumentava mais a dor de Paulo.

Será que ela ja não pensava mais nele?

Já havia se passado bastante tempo,mas a dor não diminuíra.

Ele andava rumo a sua casa,estava bêbado e cansado,sua noite não terminara do jeito que ele gostaria.Pegara o caminho mais curto,evitado pelas pessoas da cidade.

O cemitério ocupava todo um quarteirão,e a sua volta somente umas poucas lojas comerciais,principalmente funerárias e floriculturas.

Paulo sentia o fervor do álcool em seu sangue.

Chorava porque ali ninguém o via,e se o vissem,pensariam que era alguém chorando por um ente querido.

Não que fosse mentira.

Já quase ultrapassando o quarteirão,secando as lágrimas,ele parou e encostou-se num banco na calçada.

Adormeceu.

Acordou sentindo frio,com alguém o chamando.

Olhando,viu a mais bela das mulheres de sua vida.Estava com um vestido branco,colado ao corpo e com um decote um tanto ousado.

Levantou-se e sentiu-se um pouco tonto,sentando de novo no banco.Cumprimentou a bela mulher.

-Olá,perdão por ter incomodado a senhorita. --disse fitando-a com os olhos cansados.

-Olá,meu nome é Isabelle,e o seu?

Sentindo-se constrangido respondeu:

-Paulo.

-O que você faz aqui uma hora dessas Paulo?

-Estou cansado e bebi um pouco demais.

Estava tentando esquivar-se de mais perguntas.

Isabelle sentou-se ao seu lado e disse:

-Vejo que trás grandes amarguras em seu coração.

Paulo estava desconcertado e decididamente a fim de evitar a conversa.

-Vejo alguém que me viu sentado perto de um cemitério e fala demais.

Isabelle recebeu a resposta com um sorriso irônico.

-Consigo enxergar através de sua alma,amargura,solidão e o abandono,caraterísticas muito ligadas à minha.

Paulo olhou nos seus olhos e viu um imenso vazio,sua alma gelou,de repente as histórias contadas no colégio ganharam vida e a única coisa que Paulo queria era sair dali.

Ela percebia o fato e sorria de uma forma não tão amigável agora.

-Não se preocupe rapaz,sua alma tem ligações iguais a minha,e não a desejo.Em compensação, poderia trazer a sua namoradinha para saciar meu desejo.

Paulo sentia uma profunda tristeza enquanto pensava em Júlia,mas a última que ele queria,é que lhe acontecesse algum mal.

-Pode ir embora rapaz. --disse Isabelle com uma arrogância um tanto assustadora;e não olhe para trás,se olhar,arrancarei sua alma e viverá em minha companhia para sempre,gozando dessa tristeza eternamente.

Paulo saiu andando um tanto desesperado,e ao chegar à travessia da rua não conseguiu conter um sorriso e olhou um tanto prepotente para trás.

-Seu tolo! Eu disse que não deveria olhar para trás. Sinta agora a dor eterna que lhe prometi!

Sua aparência era horrível,a imagem bela havia se transformado em uma espécie espectral;não havia olhos nem boca,só havia o vazio e as marcas de sua morte com o pescoço serrilhado por uma corda e quebrado.

Quando ela proferia as palavras inaudíveis aos ouvidos humanos,percebia que Paulo somente sorria.

Depois de proferida a maldição,Paulo ainda continuara da mesma maneira,mas dessa vez era o espectro que urrava a dor e o sofrimento da hora de sua morte.

Paulo era um colecionador de almas,as prendia nas suas maldições.

E as soltava em troca de uma dívida eterna.

Era um bom negócio,afinal nenhuma ainda havia lhe escapado e já fizera tantos pactos,que mesmo que algo desse errado,já havia um exercito disposto a lutar por ele.

Indo embora olhando o nascer do sol disse:

-Azar no amor,sorte no jogo.

Foi embora para casa sorrindo,como se tivesse ganho um grande prêmio.

Esse afinal era só mais um dia na vida de um colecionador,e ele era o melhor nessa cidade.



Pietrus Holderberg